Sobre a Depressão #1 – Perda e Luto

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Escolhi para abrir essa sessão uma das coisas que mais prontamente associamos à depressão: a perda.

Esta relação que fazemos não é à toa: ao perdermos algo importante para nós, nos sentimos igualmente perdidos. O vazio que ocupa o espaço antes preenchido por alguma coisa é doloroso, insuportável. E a superação da perda é muito, muito difícil e trabalhosa.

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A primeira coisa que devemos ter em mente é nunca subestimar o valor que algo pode ter para alguém. Por algo, leia-se uma pessoa, um objeto, uma ideia… Qualquer coisa pode ser “valorizável”. Podem ser proporcionalmente importantes um brinquedo para uma criança, uma esposa para um marido ou um artista para um fã. Até mesmo a derrota do time de futebol (destacando a expressão “o time perdeu“) ou a decepção quanto à qualidade do disco novo do artista favorito podem provocar efeitos semelhantes à morte de alguém. Significa que algo foi perdido, seja real ou uma ilusão.

Quando perdemos algo, uma ligação que estabelecemos perde seu objetivo. Durante algum tempo, ficamos incapazes de “amar” outra coisa como amamos o que foi perdido. Essa porção de afeto fica extraviada, sem rumo, e até conseguirmos redirecioná-la (seja para outra coisa ou até para nós mesmos), ficamos um pouco retraídos, desanimados, vivendo o vazio. Isso é o que chamamos de luto.

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O luto é uma dolorosa e necessária experiência. Somente vivendo a perda conseguimos superá-la. Findo esse penoso período, estamos novamente disponíveis para viver a vida, o mundo. Sem viver o luto, caímos em um outro estado, esse sim patológico, que pode ser visto como insuperável. Isto é o que costumamos denominar depressão, ou melancolia. Uma incapacidade de nos ligarmos a novas alternativas. Vejam bem, não estou falando aqui de acharmos um substituto para o que se perdeu – toda relação que estabelecemos é única, nada pode ser substituído. Mas isso não quer dizer que não podemos seguir adiante e continuar vivendo nossa vida, tão bem ou até melhor do que antes.

Cada um lida com o luto de uma maneira. Em alguns casos, o sujeito pode usar o que chamamos, na Psicologia, de defesa maníaca – para não encarar sua própria tristeza, a pessoa assume uma postura animada o tempo todo, que sempre está tudo bem, tudo tem um lado positivo, “aconteceu assim porque era pra ser”. Todos conhecemos alguém assim. Não há nada de errado propriamente, afinal, é uma defesa contra um estado pior. Mas esse tipo de postura não resolve nada, é uma fuga, um paliativo. Não há problema que se resolva sem ser encarado.

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Alguns conseguem canalizar essa dor em algo criativo, produtivo. Usam como energia para conquistar uma ascensão profissional ou investem em meios artísticos. Quantas obras de arte eternizadas não nasceram da dor? Uma das mais incríveis composições de Mozart, o Réquiem, foi composto em honra da memória de seu pai. Na música, podemos sentir o peso do sofrimento que o autor atravessava, a escuridão que se apoderava dele.

Em algumas vezes, o luto pode ser superado com o tempo. Todavia, por inúmeros motivos, muitas vezes é necessário ajuda para atravessar esse momento. O tempo nem sempre cura tudo.

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