Não lembra do caminho no trânsito? Bem-vindo ao clube!

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Acabou de passar uma hora dirigindo e não lembra do que aconteceu no caminho? Nem percebeu se passou acima do limite no radar? Antes de começar a considerar marcar uma consulta em um neurologista para saber se tem dano cerebral e perda de memória, fique tranquilo, isso faz parte do nosso funcionamento normal.

Isso vale para muitas situações (um dia em que nada acontece no trabalho, uma viagem de avião…), mas o exemplo do carro é bem icônico. Quem nunca chegou em casa, depois de passar o trajeto distraído, ouvindo música, e se perguntou “como eu fui chegar aqui”? O que acontece é que em eventos que conduzimos de forma automática, nosso cérebro “dá uma desligada para economizar energia”. Se você não está fazendo nenhuma atividade que demande uma considerável quantidade de atenção ou cuidado e não está tendo nenhum tipo de aprendizado (ou seja, há apenas uma repetição), não há motivo para o cérebro dedicar grande parte de sua atividade. Também não há razão para reter na memória algo que você faz todo dia, sem mudanças significativas. Como uma das principais funções da atenção é criar memórias, acabamos ignorando esses repetitivos momentos do cotidiano. É importante destacar que isso não significa desatenção no trânsito! Há simplesmente um processo automático, o que não anula nossa atenção com os outros carros e o nosso. Como exemplo, depois que aprendemos a andar, não ficamos pensando a todo momento “levantar perna esquerda… agora a perna direita…”. Depois de algum tempo, o ato de pisar na embreagem, trocar a marcha, acelerar, olhar os retrovisores, etc, vira um processo semelhante a andar – somos capazes de fazê-lo automáticamente.

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Além dessa relação atenção-memória, há uma terceira questão em jogo aqui, a temporalidade. Quando você vive uma situação nova, tudo é vivido com mais atenção, mas dedicação. Por outro lado, quando você executa as tarefas do dia a dia, tudo é mais automático – enquanto atualiza as planilhas no trabalho, vai pensando no que vai fazer no fim de semana, o que vai jantar, botando os podcasts em dia… O que acontece é que quanto maior a quantidade de novas informações que o cérebro processa, mais longa é a noção do tempo passado. Por isso, quando você viaja, o primeiro dia na nova cidade sempre parece ser o mais longo, tudo é vivido com mais intensidade. Isto poderia explicar inclusive porque, quando somos crianças, o tempo parece passar mais devagar. Lembre-se de como eram suas férias de verão – provavelmente, pareciam durar para sempre. Não passávamos um dia sem algo novo. Quanto mais aprendemos (recebemos informações) sobre o mundo, menos precisamos processar no dia a dia e mais rápido o tempo parece passar. O mundo já é mais familiar, não há necessidade de aprender tanta coisa.

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Por outro lado, a temporalidade também pode ter um caráter oposto: enquanto vivemos algo tedioso, parece não ter fim, enquanto o tempo voa quando nos divertimos. Mas isso é assunto para outro post…

Para saber mais:
http://bigthink.com/60-second-reads/dont-worry-you-wont-remember-being-stuck-in-traffic (em inglês)
http://www.newyorker.com/reporting/2011/04/25/110425fa_fact_bilger?currentPage=all (em inglês)
http://lifehacker.com/why-you-dont-remember-your-commute-677732950 (em inglês)

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