TOC: O Transtorno Obsessivo Compulsivo

O TOC é um dos transtornos psicológicos mais conhecidos hoje em dia na cultura popular. Tem um amigo perfeccionista? Tem TOC. Conhece alguém muito organizado? Tem TOC também. É supersticioso? TOC! De tanto falarmos essas três letrinhas no nosso dia a dia, acabamos esquecendo que TOC é uma sigla, e não uma onomatopeia. Significa Transtorno Obsessivo Compulsivo, e vai muito além dos “nossos amigos com TOC”.

TOC

Transtorno

A primeira coisa que devemos ter em mente é que o TOC é um transtorno, e portanto, uma doença. Aquela pessoa que você conhece que é bem certinha, mantém a casa arrumada, etc,  provavelmente não tem TOC. Nos transtornos psíquicos, existe uma dificuldade muito grande em definir o que é saudável, normal, do que é patológico, quando se configura realmente um transtorno. Geralmente, percebemos assim: algo só é patológico quando traz algum transtorno para o indivíduo ou para alguém ao seu redor e é inevitável, a pessoa não tem controle sobre essa situação. Voltando ao exemplo, se a sua amiga gosta de manter sua casa organizada e isso não atrapalha nem a ela nem a outra pessoa, está tudo bem. O problema surge quando a pessoa é incapaz de ver qualquer traço de desorganização na casa (havendo realmente ou não a bagunça) e deixar passar. Isso a atrapalha porque passa a consumir grande parte ou até todo o seu tempo, além de ser desagradável a quem convive com ela.

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Obsessão

Embora a primeira coisa à qual a palavra “obsessão” nos remeta seja alguém completamente fixado em alguma coisa (ou pessoa), não é apenas neste sentido que esse termo é empregado no TOC. Neste caso, obsessão está relacionada a uma ideia, um pensamento que está enraizado na psique do indivíduo por algum motivo. Algumas das obsessões mais comuns são os já mencionados perfeccionismo, organização, higiene, fixação e até mesmo a superstição, quando assume caráter de transtorno. Normalmente, busca-se um equilíbrio entre partes, um padrão – seja em tempo, números, formas, dinheiro… A obsessão tem natureza cognitiva, isto é, está associada ao funcionamento mental, e já é considerada um transtorno por si só.

Às vezes, o bastante para irritar alguém profundamente.
Às vezes, o bastante para irritar alguém profundamente.

 

Compulsão

Já a compulsão está mais ligada ao comportamento, considerando-se que a pessoa está, por algum motivo, em um ciclo de repetições de determinado ato que não consegue evitar. A compulsão pode assumir inúmeras facetas, por exemplo, através do alcoolismo, do comer irrefreável, do vício em drogas (em paralelo à dependência química) e até mesmo de atos mais inocentes, como assistir TV, ler livros ou jogar videogame. Há até mesmo a compulsão em arrancar pelos do corpo. A ideia central da compulsão é de algo que é executado continuamente, sem poder ser parado, e frequentemente se relaciona a uma tentativa de fuga. Pode ser uma fuga da realidade, uma fuga dos problemas ou mesmo uma fuga do vazio, do nada para fazer. Trata-se, portanto, de preencher espaços.

Quando obsessão e compulsão coincidem

O TOC representa a união destes dois transtornos que, embora a princípio sejam independentes, muitas vezes estão relacionados entre si. Trata-se portanto de um transtorno que ocorre quando algo a nível mental é reproduzido através do comportamento. Quando uma ideia (obsessiva) dá início a um comportamento (compulsivo). O que se busca é o alívio de uma situação muito incômoda, uma fuga, que costuma basear-se em um raciocínio, a princípio, ilógico. Vamos a um exemplo: você já viu o filme Melhor É Impossível? Nele, o personagem de Jack Nicholson, além de ser bastante insensível e desagradável (o que não faz parte do TOC!) tem várias manias que mostra ao longo do filme. Para esclarecer, vamos nos ater à mania de higiene. Logo nos primeiros minutos, o personagem abre o armário do banheiro, retira um sabonete, lava as mãos e logo em seguida joga fora a barra de sabão recém aberta. A mania de higiene está geralmente associada a uma ideia de que há germes em todo lugar, que vão lhe fazer mal se você não fizer de tudo para evitá-los. O personagem vai além: joga fora o sabonete porque ele já foi “contaminado” pelos microorganismos, tornando-se inútil. Apenas lavar as mãos não basta. Algumas pessoas repetem tanto o ato de lavar as mãos ao longo do dia compulsivamente que acabam com as mãos em carne viva.

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Há também o clássico “preciso acender e apagar a luz oito vezes ou minha mãe vai morrer”, apesar de até o acender/apagar a luz várias vezes só para conferir se está realmente desligada possa ser considerada um TOC. As superstições de torcedores de futebol, que precisam ir sempre fazer a mesma rotina para o time ganhar e, se perde, ficam procurando o que fizeram de errado durante o dia, podem também se encaixar no trastorno – lembrando sempre que é importante diferenciar o que podemos chamar de normal e patologia. Estes são exemplos bem simples, mas transtornos obsessivo compulsivos podem ser bem mais complexos do que isso – normalmente, a “mania” à qual o indivíduo recorre é uma forma de evitar um conteúdo psíquico muito significativo. Assim, suas origens e consequentemente, seu tratamento, são bastante trabalhosos, por estarem em um nível muito profundo e de difícil acesso na psique; é algo que deve ser tratado com muita atenção e cuidado pelo terapeuta.

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Embora busque alívio, é difícil encontrar alegria em um ciclo de obsessão-compulsão.

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